CLÍO:
Revista de ciencias humanas y pensamiento crítico.
Año 2, Núm 4. Julio / Diciembre (2022)
Alves de Oliveira Jailton
Meninas em privação de liberdade... PP: 91-110
ISSN 2660-9037
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elevado de lavadeiras, posto que, desse total, mais da metade foi detida por vadiagem,
embriaguez e prostituição. Ou seja, infrações associadas à desordem urbana. Lavadeiras
não podiam ser presas por esses motivos? O que isso tem haver? Diferentemente das
ocupadas em outros serviços, que tinham o deslocamento limitado ao trajeto para o tra-
balho, as lavadeiras tinham quase que livre acesso às vielas e becos da cidade quando,
por exemplo, se deslocavam até os chafarizes. Assim, enganando os policiais, poderiam
conseguir dinheiro extra na prostituição,mendigar ou vigiar as alcovas enquanto suas
senhoras se deleitavam em braços e camas de amantes, como informou Maria Eduarda,
22, negra, analfabeta, natural de Pernambuco, que declarou ser lavadeira, mas confes-
sou que atuava mesmo como prostituta. Foi presa três vezes por esse motivo e uma
vez por servir de olheira para sua senhora, enquanto esta estava na casa do primo do
marido (MATRÍCULAS DE DETENTOS E DETENTAS, 1887, p. 131).
Há desconança de que meninas entraram grávidas ou pariram no interior des-
ses estabelecimentos. Em uma de suas visitas à Casa de Correção, o cronista Ernesto
Senna informou que havia uma prisão para as crianças, que cava do lado de fora
do estabelecimento, e que havia um parque para elas brincarem (SENNA, 1907). Até
o momento, entretanto, não há outros documentos que ajudem a corroborar com
essa informação. No entanto, nos deparamos com registros de meninas, como Au-
gusta, seis anos, solteira, sem ocupação, rosto comprido, parda, lha da detenta Vi-
cência, que trajava vestido de anela branca quando foi registrada no dia 27 de maio
de 1877. Saiu 29 dias depois (MATRÍCULAS DE DETENTOS E DETENTAS, 1881, LL-11,
p.71). Maria, três anos, solteira, sem ocupação, parda, rosto comprido, natural do Rio
de Janeiro, que cou dez dias na prisão (MATRÍCULAS DE DETENTOS E DETENTAS,
18778 LL-09, p.179). A lha da detenta Assinira, com um mês de idade, branca, olhos
pardos, nariz regular, cabelos pretos, passou 14 dias no estabelecimento prisional
(MATRÍCULAS DE DETENTOS E DETENTAS, 1878, MD-LL-09, p.247). A despeito de
terem ido visitar suas mães ou serem presas, são histórias de crianças que enfrenta-
ram a dura realidade das prisões da capital da corte. Da mesma forma, encontramos
menores de quatorze anos, que não seriam julgados criminosos, independente da
capacidade de discernimento, como visto anteriormente, como Julia, 9 anos, pre-
ta, lavadeira, analfabeta, foi presa por vadiagem juntamente com sua mãe, porque
caminhavam tarde da noite pelas ruas. Foram liberadas dez dias depois (MATRÌCU-
LAS DE DETENTOS E DETENTAS, 1881, LL-11, p.71). O mesmo ocorreu com Orora
Deolinda Maria Luiza, 9 anos, solteira, fula, olhos pretos. Ela e sua mãe, Deolinda
Maria Luísa, 28 anos, lavadeira, preta, natural de Magé, foram presas por vadiagem.
Foram libertas após doze dias (MATRÍCULAS DE DETENTOS E DETENTAS, 1881, LL-11,
p.157). Portanto, houve distanciamento entre normas e práticas